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COMO A NEUROCOMUNICAÇÃO AJUDA A “LER A MENTE” DO OUTRO

  • Foto do escritor: Rochelle Jelinek
    Rochelle Jelinek
  • 21 de dez. de 2022
  • 6 min de leitura

Ler mentes é possível? Na verdade, é um fator natural humano e que todos nós fazemos, muitas vezes sem nem sequer nos darmos conta, porque a neurocomunicação está presente em tempo integral nas relações humanas. Mas como estamos fazendo e como podemos fazer melhor, para potencializar nossa capacidade de comunicação, interação, negociação, persuasão?

Corpo e mente são dois lados da mesma moeda e tudo em um, afeta o outro. Não é possível ter um único pensamento sem que ele desencadeie algo físico em quem pensa. Às vezes, esse pensamento gera um efeito físico claro – quando se está com raiva e franze a testa ou “fecha a cara”, por exemplo – e outras vezes é um efeito muito sutil. Da mesma forma, o que acontece na nossa postura física influencia-nos psicologicamente: se ficamos em pé e com boa postura ao falar ao telefone, temos mais autoconfiança (e transmitimos isso ao outro), ou se engordamos e não nos sentimos bem com isso, afeta nossa autoestima e autoconfiança e por consequência habilidades cognitivas e comportamentais também são afetadas.

A maior parte da nossa comunicação com os outros é não verbal, e mais do que isso – é determinada pelo inconsciente. Por isso é tão importante saber interpretar a linguagem corporal[1] e toda comunicação chamada de “não verbal”, o que inclui o “além do corpo”, como ambiente e outros sinais do emissor. Tudo comunica o tempo todo: aparência, cores, sinais, sons, gestos, expressão facial, linguagem corporal, ambiente, voz, formas, símbolos. Estamos sempre passando algum sinal, com tudo que fazemos. Da mesma forma, também estamos sempre sob influência dos sinais de outras pessoas, que nos impacta mesmo sem que possamos perceber – são as mensagens subliminares, que podem ser intencionais ou inconscientes. Portanto, “ler mentes” é uma realidade que já faz parte do nosso dia-a-dia. Lemos mentes, ou seja, interpretamos sinais o tempo todo.


O que a empatia tem a ver com ler mentes? Uma das principais vantagens de saber o que uma pessoa está pensando é que isso nos ajuda a ser mais empáticos. Empatia, nesse caso, significaria tentar criar harmonia e relações amistosas com as pessoas, entendendo o lado delas nos dilemas e sabendo qual é a melhor forma de conduzir a situação.

A regra básica para conseguir estabelecer a empatia em seus relacionamentos é analisar detalhadamente e profundamente como as pessoas funcionam e, a partir dessa percepção, adaptada nossa forma de comunicação de acordo com o indivíduo com o qual queremos nos comunicar. Ao ajustar seu discurso, seu receptor entende de maneira mais clara e eficiente. E aqui não estamos falando apenas do discurso oral, mas especialmente do discurso silencioso, feito com nossos corpos, gestos, aparência e ambiente.


Uma das técnicas que mais funciona para criar conexão com quem se quer interagir, se relacionar ou persuadir, usando a comunicação não verbal, é o que se chama de “espelhamento". Em outras palavras: copie seu interlocutor. Observe a pessoa com quem você deseja desenvolver empatia e copie sua postura. Se ela mover alguma parte do corpo, você deve mover a mesma parte. É claro que para que isso seja eficiente é crucial que a adaptação e cópia dos movimentos seja feita de forma sutil e gradual. Outra ideia é copiar a expressão corporal da pessoa, já que ela não é capaz de ver o próprio rosto. Você se mostrar da mesma forma que ela ajuda a criar o vínculo da empatia com mais rapidez, necessário para conexão. Sem conexão não há persuasão.


Claro que a comunicação não verbal é um conjunto de fatores, que inclui desde cores, som, tom de voz, aparência, postura corporal, ambiente, timing, gestos, uso e local de objetos, entre outros. Não podemos simplesmente inferir um comportamento e tomar como base para interpretação do interlocutor. Por exemplo, uma pessoa de braços cruzados não está, necessariamente, com bloqueio; ela pode estar simplesmente com frio. A chave está em aprender a ler vários sinais e saber usá-los com intencionalidade e empatia. A regra do espelhamento, ou seja, de repetir a forma como a pessoa se comporta, também funciona quanto ao tom de voz, velocidade, uso de vocabulário similar. Isso se altera dependendo de quem é nosso interlocutor.


Para os conectarmos, devemos sempre tentar encontrar algo em comum como nosso interlocutor, por mais difícil que isso possa parecer. Mesmo que não seja um assunto comum ou tradicional, às vezes os dois podem ter hobbies parecidos. Isso torna ambos mais abertos para um diálogo produtivo. Nesse ponto, quanto mais pessoal (e menos impessoal) o assunto, maior a possibilidade de conexão com o outro, o que significa estabelecer um maior vínculo de empatia e de abertura. Se só encontramos coisas superficiais em comum, a interação e a conexão também será superficial, e portanto menor o potencial de persuasão.


Nossas impressões sensoriais envolvem interpretar sinais a partir dos 5 sentidos. A comunicação verbal atinge apenas parte de um deles. Por isso, quando se quer criar conexão para facilitar a interação, relacionamento, negociação com o outro, quanto mais sentidos conseguir ativar na mente do outro, maior a possibilidade de conexão. E quanto mais sinais se conseguir interpretar, tanto mais aumenta nossa habilidade de comunicação, persuasão e negociação.


Interpretar emoções é outro fator fundamental da neurocomunicação. Não adianta tentar esconder: nós sempre revelamos nossas emoções. As emoções fazem parte da nossa sobrevivência. Elas começam de forma automática, a fim de acionar nosso sistema nervoso sem que nem sequer racionalizemos sobre os problemas em xeque. Elas aumentam nossas chances de sobrevivência, desde os primórdios. Essa é a origem da nossa emoção, mas, com o passar dos anos, ela se desenvolveu de tal maneira que outros tipos de emoção, com outras reações, se desenvolveram. E as expressões faciais são um dos maiores espelhos das emoções. O rosto tem mais de 40 músculos e todos eles podem ser usados com sinais enviados pelo inconsciente ​​quando expressamos algum sentimento. É fácil perceber pela expressão facial ou linguagem corporal se alguém está feliz, triste ou irritado. Muitas vezes nem a pessoa que está sentindo percebe que está exteriorizando aquela emoção.


A questão é: por vezes nem sequer entendemos as nossas emoções, então como podemos entender as emoções dos outros para nos comunicar, relacionar ou negociar melhor?

Emoções fortes são, inclusive, capazes de distorcer nossa visão ou interpretação dos fatos ou das pessoas. Por isso devemos evitar decisões importantes e evitar agir impulsivamente quando estamos tomados por emoções fortes. É que provavelmente acabemos nos arrependendo


Paul Ekman, psicólogo norte-americano, categorizou sete emoções básicas, que o mundo inteiro sente, independentemente de cultura ou localização: surpresa, tristeza, raiva, medo, alegria, nojo, desprezo. Ao interpretar a emoção de uma expressão, normalmente nós não sabemos o que a causou. Por isso, não podemos deixar a expressão das outras pessoas afetar o nosso comportamento, pois não temos certeza dos motivos das emoções delas. Por exemplo, alguém pode estar chateado e com uma expressão irritada, mas não necessariamente ele está chateado com você, pode ser com algo que aconteceu na família, no trabalho ou no trânsito, por exemplo.[2]

Saber interpretar sinais também nos ajuda a detectar mentiras, através dos "sinais contraditórios". Ou seja, são sinais que não condizem com a emoção que a pessoa está tentando apresentar com seu discurso. A maior parte dos sinais está no rosto, nos olhos (quando alguém está mentindo geralmente não consegue olhar nos olhos) e nas mãos.

Todavia, o resto do corpo também pode nos dar sinais por meio de atos falhos gestuais. Eles podem não significar nada, mas podem ser também esclarecedores, se acompanhados de outros atos. Da mesma maneira, é possível perceber que existe algo de errado quando a voz sofre mudanças bruscas em tom, fala ou linguagem utilizada. Se você desconfiar que algo não está condizente, aja com cautela e dê à pessoa oportunidade de sempre se explicar.


Agora pergunto: o que aconteceria se todos soubessem “ler mentes”? Não seria estranho se todos agissem assim, tentando controlar tudo e analisar os outros o tempo todo? Bom, nós já fazemos isso o tempo todo, o problema é que fazemos com heurísticas e vieses cognitivos, filtrando informações, completando com nossa visão, distorcendo, e quase tudo no nível do inconsciente.[3] Se formos capazes de trazer um pouco mais para o consciente, poderemos ser mais empáticos e nos relacionarmos melhor. O problema não é “e se todos agissem assim?”, pois isso nunca acontecerá, sempre teremos pessoas incapazes de criar empatia, interagir e e de evoluir.


O fim é só o começo: treino, treino, treino, é a chave para a mudança. Para conseguirmos ser mais habilidosos em neurocomunicação, o primeiro e principal passo é o estudo, o segundo é a aplicação prática, e o terceiro é a constância da mudança.


 
 
 

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