O custo afundado de insistir quando não deveria
- Rochelle Jelinek
- 8 de ago. de 2022
- 2 min de leitura

Muitas decisões que tomamos são irracionais. É como se mentíssemos para nós mesmos para não ver o que deve ser visto. São os vieses cognitivos que nos levam a erros sistemáticos de pensamento, como o viés do custo afundado. Com isso podemos fazer escolhas equivocadas e até mesmo ter prejuízos. Um desses vieses é chamado “custo afundado” ou “custo irrecuperável”. É uma ideia distorcida que pode fazer com que você insista em seguir em algo que está sendo prejudicial. Mas como e por que isso acontece? O viés do custo afundado se refere a gasto de tempo, energia e dinheiro que foram desperdiçados e não podem ser recuperados, mas que insistimos em escolhas com o intuito de tentar conseguir uma compensação. O sócio que já rompeu relações dentro da empresa mas não quer perder o tempo que investiu ali. O estudante de graduação que não gosta do seu curso, mas decide ir até o final para não “desperdiçar” o tempo e dinheiro que já gastou. O parceiro que insiste num relacionamento que não se sustenta mais. O profissional com burnout que resiste a uma transição de carreira por não querer “perder” os anos que já trabalhou. O investidor que escolheu o fundo errado que deu prejuízo e segue insistindo para tentar recuperar o que perdeu. Aquele que insiste num processo judicial sem fim só para ter razão ou para incomodar o outro. Uma negociação com impasses e objeções sem fim e sem perspectiva de mudança de rumo. Estados Unidos que não se retirava da guerra do Vietnã ou do Iraque mesmo após todo o desgaste ocorrido. Na verdade, o tempo, dinheiro ou energia já gastos não podem ser recuperados. É impossível voltar atrás. Muitas vezes achamos que mudar significa perda ou desperdício, decidindo seguir com a decisão inicial com percepção (equivocada) que isso é aproveitar os recursos já gastos. O viés do custo afundado é a resistência da pessoa em abandonar algo que já mostrou sinais de não recuperação. Busca ações para justificar as anteriores - ou para se justificar para os outros -, mesmo que racionalmente continuar insistindo não seja a melhor decisão. Embora muitas vezes pareça existir um argumento racional para buscar a recuperação desse custo afundado, a escolha é muito mais subjetiva e emocional do que fruto de uma análise. É preciso pensar faz sentido continuar ou se é melhor não insistir. A decisão não deve ser emocional em busca dos recursos perdidos, mas racional considerando o interregno entre o presente e o futuro. Perdeu? Paciência. O primeiro passo é administrar o ego e admitir que falhou e que o custo do tempo, dinheiro ou energia é irrecuperável. Pode conseguir um outro tempo, uma outra energia, ou outros ganhos, mas aqueles não voltam mais e o que já aconteceu não vai mudar! Tempo, dinheiro e energia já investidos num relacionamento, projeto, negócio, serviço, produto, situação, processo ou numa negociação são custos perdidos que, racionalmente, não podem ser considerados para a decisão de prosseguir.
O ponto de referência para tomada de decisão mais sensata e definir a próxima ação deve ser o presente, sob pena de insistir irracionalmente no custo afundado e só aumentar o prejuízo financeiro e emocional. O maior inimigo não é o prejuízo, mas o ego.
Comentarios